O varejo brasileiro está prestes a alcançar a melhor performance em mais de dez anos. De acordo com o IBGE, até agora, somente junho apresentou queda efetiva de resultados. Além disso, um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) está projetando um crescimento de 30% nas vendas em 2024, o que não acontece desde 2013. Segundo projeções da Scanntech, somente o varejo alimentar deverá representar R$1,27 trilhão em faturamento no ano. Estes fatores estão sendo impulsionados pelo aumento da massa salarial e da oferta de emprego aos consumidores.
“O cenário de 2024 como um todo foi positivo, com datas comemorativas como o Dia das Mães e Dia do Consumidor impulsionando o varejo. Também vimos 2024 com bons olhos do ponto de vista da retomada do crédito. Houve uma boa circulação de capital na economia, especialmente por conta dos baixos índices de desemprego. É um efeito cascata em que o crédito também foi protagonista nesse cenário de impulsionamento”, comenta Glauco Soares Filho, co-fundador da RPE – Retail Payment Ecosystem.
Em outubro do ano passado, vários setores registraram aumento de vendas. Em relação a 2023, o crescimento total foi de 6,5% até agora. Na comparação com setembro, as vendas de artigos farmacêuticos e de perfumaria cresceram (16,1%), assim como as de móveis e eletrodomésticos (9,9%); tecidos, vestuário e calçados (7,9%); supermercados, hipermercados e produtos alimentícios (5,6%) e artigos de uso pessoal e doméstico (4,7%), entre outros.
No Natal, os resultados também foram positivos. De acordo com o ICVA, as vendas entre os dias 19 e 25 de dezembro de 2024 aumentaram 3,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, sendo que os setores que apresentaram maior desempenho foram o de supermercados (crescimento de 6%); drogarias e farmácias (5,8%) e óticas e joalherias (5,7%). De acordo com a Visa Consulting & Analytics, desde 1º de novembro, houve um aumento de 12,2% nas vendas do fim do ano em comparação com 2023, considerando todas as formas de pagamento, incluindo outros serviços financeiros além dos fornecidos pela Visa.
Taxa Selic acima de 14% vai prejudicar o varejo?
Apesar do cenário positivo, a volatilidade econômica tem influenciado diretamente o varejo e o poder de compra dos consumidores. Com o aumento da taxa Selic, agora estabelecida em 12,25% ao ano, mas com projeções para chegar a 14,75% em 2025, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central, um alerta se acende a respeito do encarecimento das linhas de crédito e uma possível redução do consumo por parte da população. Com o aumento das dívidas e taxas de juros, que acompanham a Selic, o acesso a bens de maior valor, como eletrodomésticos, eletrônicos, veículos, móveis, entre outros, fica limitado e há menos dinheiro circulando no mercado. Em algum nível, isso também afeta os varejistas, que acabam com um nível maior de endividamento. “Esse cenário impacta diretamente na concessão do crédito, que fica mais caro e, consequentemente, mais escasso. Por conta disso, o varejista precisa ser mais incisivo para vender”, aponta Glauco Soares Filho.
Como alternativa para estimular o consumo, os varejistas precisam apostar em fórmulas próprias de fidelização dos clientes, como concessão de crédito e fornecimento de cartão de loja próprio, o chamado Private Label. Apesar de o pix ser o meio de pagamento queridinho da população, com 29 bilhões de transações realizadas só no primeiro semestre de 2024, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), cartões de varejo próprios estão ficando populares.
De acordo com a pesquisa ‘Fiserv Insights: brasileiros e o uso de cartões de crédito hoje e amanhã’, 62% da população já tem, ao menos, um cartão de crédito das lojas de varejo. E, uma vez na posse de um, 67% das pessoas acabam gastando mais com ele. Especificamente entre os indivíduos das classes D e E, este número alcança 81%. Isso porque 28% das pessoas das classes D e E consideram o cartão de crédito como parte da renda e 28% tem como principal benefício deste meio de pagamento a possibilidade de parcelamento das compras. Junto a isso, indivíduos das classes D e E têm mais de um cartão para ter mais limite disponível. Ou seja, eles buscam maior acesso à renda.
“O grande impulsionador disso tudo é o crédito, mas os varejistas também têm diversificado a captação de clientes e procurado fidelizá-los a partir de programas adequados de CRM, políticas de cashback, loyalty e outros incentivos, para que os consumidores voltem e não façam apenas uma compra na loja, mas criem recorrência, especialmente no setor de bens de consumo duráveis. No setor de alimentos, isso também acontece, mas o formato e o percentual de desconto costumam ser mais conservador”, explica Glauco.
O que vem por aí?
Para 2025, as tendências apontam para uma integração cada vez maior do varejo com a tecnologia. O comércio eletrônico, cujo faturamento cresceu 18,7% no primeiro semestre de 2024, atingindo R$160,3 bilhões, impulsionado pela elevação do setor de alimentos (18,4%), continuará imponente, junto à incorporação dos serviços financeiros. Dessa forma, será cada vez mais possível associar compras às necessidades de crédito dos consumidores, como empréstimos, financiamentos e outros serviços, de forma personalizada de acordo com as necessidades e orçamento deles.
“O consumo e o varejo brasileiro hoje estão pressionados pela alta do dólar, pela inflação, e por essa subida da SELIC, que é previsível e foi sinalizada pelo COPOM. Mesmo assim, os varejistas anteviram-se a este movimento de uma forma mais estruturada em 2024, inovando em tecnologia e oferta combinada. Esses fatores, junto com o cenário positivo de menor desemprego e aumento da massa salarial que estamos vendo agora, devem trazer estabilidade ao varejo este ano. Afinal, o varejo é responsável por apoiar a economia brasileira, representando uma parte importante do PIB”, comenta Lucas Dornellas, Chief Revenue Officer na RPE – Retail Payment Ecosystem. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o varejo ampliado alcançou a quantia de R$2,75 trilhões, representando 25,23% do Produto Interno Bruto (PIB). Já o varejo restrito ficou em R$2,23 trilhões e significou 20,45% do PIB do país.
Para Pedro Albuquerque, co-fundador e diretor de novos negócios da RPE, o principal desafio do varejo em 2025 será “controlar os custos fixos, reduzir a alavancagem deles e ter dívidas não atreladas à taxa de juros. Com isso, os varejistas terão mais possibilidade de lançar novos produtos, abrir novas lojas e garantir um crescimento mais estruturado. Com uma participação efetiva no PIB, o varejo brasileiro segue como motor essencial da economia. A aposta em estratégias tecnológicas e programas de fidelização será a chave para enfrentar os desafios de 2025 e manter o crescimento sustentável do setor”, finaliza o especialista.
Luiza Lamas 11915673718 [email protected]